terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O CASAMENTO NA UMBANDA





O Casamento na Umbanda



LURDES DE CAMPOS VIEIRA / SUP. RUBENS SARACENI
O elemento humano vital, o impulso universal que tudo cria e gera, que motiva duas pessoas a unirem suas vidas em uma existência comum,  é o Amor. O verdadeiro sentido do casamento é a fusão de duas  almas, é deixar de ser parte para tornar-se todo.  A união das forças do homem e da mulher, em um compartilhar  sincero de du­­as vidas, faz aflorar uma parte funda­men­tal do ciclo  humano. O casamento é o elo mais forte e perpetuador da sociedade,  é a união solene entre duas pessoas de sexos diferentes, com legitimação  religiosa e/ou civil, para a constituição de uma família. A família deve funcionar como o berço dos valores que formam o caráter  e a personali­dade do ser. O casamento é perpetuador da família e da  espécie.
Os primeiros conceitos de ética e moral, a primeira idéia e concepção sobre o que é Deus, religião e religiosidade, aparecem na família,  uma das principais bases de nossa sociedade. Isso coloca em evidência  a im­portância da união matrimonial, da integra­ção e da valorização da  família com a re­ligião. O casamento não é apenas uma ins­tituição humana, mas é também instituição divina. Não podemos esquecer que a lei dos homens não é mais importante que as bênçãos de Deus. Para isso, o Divino Cria­dor, Olorum, precisa estar presente, como Sacramento (sinal), na vida dos casais. Sem Olorum, o casamento pode tornar-se um fardo muito pesado de se carregar. O amor humano e o desejo sexual podem se exaurir rapidamente, e, portanto, não serem sufi­cien­tes para sustentar a relação.
O casamento significa uma verdadeira aliança do casal com o plano divino, pois o Divino Criador é Amor, é união, é dádiva, é bondade infinita. A bênção de Deus fortale­ce o casamento, na realidade do dia-a-dia, restaurando-o com Sua misericórdia, sem­pre que necessário; proporciona cresci­mento espiritual e aproxima o casal do Divino Criador.
O casamento na Umbanda é um ritual belo, simples e singelo, no qual o sacerdote ou a sacerdotiza, ou a entidade responsável, pela outorga a eles conferida, dá as bênçãos divinas para a união do casal, lembrando-lhes os valores e o significado dessa união. A Umbanda prega a monogamia, a fide­lidade, o respeito mútuo e o amor a Deus. O bom relacionamento deve ser dinâmico e sua harmonia só pode ser alcançada com Amor, Respeito, Dedicação, Crescimento e Maturidade.
Preparação: Em frente ao altar, deverá estar arrumada uma mesa, orna­mentada com uma bela toalha branca ren­dada. No chão podem ser colocados belos vasos com flores. Sobre a mesa, castiçais com velas: branca, para Pai Oxalá, e azul-claro, para Mãe Iemanjá. Também deve haver sobre a mesa água, pemba ralada e crisântemos, uma vela rosa para a noiva, representando Mamãe Oxum e uma vela azul-turquesa para o noivo, representando Papai Oxumaré. Esses orixás simbolizam a união para a preservação da vida.
A água, em um cálice ou taça, significa a vida e a purificação. É utilizada para banhar as alianças.
A pemba, representa o alimento, a terra, a firmeza e a estabilidade.
O crisântemo é utilizado para aspergir a água, abençoando, para colocar as alianças dentro e porque foi a flor indicada pelos mentores, pois traz harmonia, quietu­de, paciência, tolerância e benevolência.
Em frente à mesa, no chão, devem estar duas belas almofadas brancas, de cetim, para que nelas os noivos se ajoelhem ou um genuflexório no qual os noivos fiquem bem acomodados. Os médiuns poderão estar formando a corrente mediúnica, os homens à esquerda e as mulheres à direita, de frente para o altar. No meio, deixar um corredor, com 7 médiuns mulheres do lado direito e 7 médiuns homens do lado esquerdo, segurando palmas brancas, formando uma espécie de “túnel de flores”, para a passagem da noiva, na entrada, e dos noivos, na saída. O corredor poderá estar coberto com pétalas de rosas ou folhas de outras plantas. Ele simboliza o caminho florido que estão pisando juntos. 
O trabalho: O (a) dirigente poderá abrir o trabalho, normalmente,  com a Cu­rimba entoando o Hino da Umbanda, can­to de abertura,  defumação, louvor a Pai Oxalá e às Sete Linhas, etc. A seguir, chama o  noivo e os padrinhos para a frente, ao la­do do altar. 
Entrada da noiva: A Curimba faz canto para a entrada da  noiva, que se dirigirá à frente do altar, encontrando-se com o noivo. Os  padrinhos posicionam-se ao lado, atrás dos noivos, segurando as ve­las na  mão direita. O padrinho segura a vela azul e a madrinha a vela rosa. O  sacer­dote posiciona-se em frente aos noivos. 
EXPLANAÇÃO : O(a) dirigente pode­rá explanar sobre a doutrina, sobre o sacra­mento  que será realizado, orientar os fiéis sobre a importância de se ter  uma religião, do cultivo da religiosidade e do casamento. Poderá falar  aos noivos sobre a importância do casamento na Umbanda.
O Matrimônio: “Estamos aqui reu­nidos, sob a luz de nosso Pai Olorum, pedin­do a nosso Pai Oxalá e aos Protetores, para que seja  abençoada e se consagre a união de nosso irmão (nome do noivo) com  nossa irmã (nome da noiva). Essa união é desejo de ambos, para darem  prosseguimento às suas vidas aqui no plano físico, porque é a condição fundamental, uma necessidade para a preservação da própria espécie. Que ela seja abençoada e seja o início de uma caminhada em comum. Queremos para­beni­zar a decisão dos noivos, pois é assim que procedem as pessoas que se amam e querem dar seqüência a uma família. O Amor é um sentimento, uma sensação, uma fonte alimentadora do ser, um princípio gerador, que extrapola as fronteiras do universo pessoal, mesclando-se à vida. Nosso Divino Criador, Olorum, gerou espíritos masculinos e femininos e as espécies aos pares, machos e fêmeas para se complementarem. A união dos pares faz parte de uma das formas de sustentação da vida e da multiplicação da espécie humana no planeta. Quando ama­mos e somos amados, muda a própria visão que temos do mundo, pois ele nos parece muito melhor e mais bonito. Tornamo-nos mais tolerantes, mais humanos, mais fra­ternos e mais saudáveis. Felizes são os que se unem com seus pares!
O casamento é a união estabelecida por Deus, para o nosso aperfeiçoamento. Só os que se unem em Deus, com Suas divin­da­des amparando-os, são plenamente felizes, respeitados pela sociedade, pelos familiares e pelos amigos. Um relacio­na­mento afetivo só será bem-sucedido se hou­ver respeito e entendimento mútuo, se hou­ver cumprimento do dever moral e se cada um der o que tem de melhor para a felici­dade do casal, para ver no outro a satisfação da vida. É isso que Deus quer de vocês! A Umbanda adotou os procedimentos de nossa cultura ocidental, que é monogâmica. Mas, a fidelidade não deve existir por mera convenção social, e, sim, porque estaremos cumprindo diante de Deus o que aceitamos do plano espiritual. O dever moral, na ordem dos sentimentos, é muito difícil de se cumprir e suas vitórias não têm testemu­nhas. Dever é coragem da alma que enfren­ta as angústias da luta. A obrigação moral para com Deus jamais cessa e o homem que cumpre seu dever ama a Deus mais que às próprias criaturas.
A mesma lei que nos ampara, nos pune quando a infringimos. Se o Amor não resistir ao tempo e um dia vier a separação, que não haja traição nem ofensas. Em religião, nenhuma infidelidade é aceita. Os casais que não seguem regras racionais, acabam por se­parar-se, mas o plano físico é apenas uma passagem. A separação com antipatia, com sentimentos de mágoa, ódio, gera carma que se desdobra no plano espiritual.
O casamento é a união de dois espíritos, de duas vontades, de duas consciências, pa­ra assumir as funções de marido e esposa. Implica em conduta, preservação de pre­ceitos, mudanças interiores, amparo e res­pei­to. A união necessita de reflexão, para que se tenha consciência das responsabi­lidades daí em diante, para dar orientação aos que vierem dessa união.
Pai e mãe devem ter condutas exem­pla­res, nas quais o filho possa se espelhar para um dia ser feliz em sua união, também. Cada um de vocês, hoje, assume um dever para com o outro, de respeito mútuo, de es­ti­mular, de amparar, de compartilhar ale­grias, tristezas e dificuldades.
Na união do sagrado matrimônio, estão unindo seus espíritos diante de Deus, estão assumindo um compromisso de trilharem um único caminho, juntos, com Amor. O ca­sa­mento é a cerimônia religiosa mais importante de todas, porque é o momento em que um se responsabiliza pelo outro, com renúncias em benefício mútuo.” 
A cerimônia de casamento: O(a) sacerdote (sacerdotisa) deverá coordenar o propósito do culto do dia com as necessidades da assistência.  O(a) sacer­dote(sacerdotisa) diz aos padrinhos: 
ORIENTAÇÃO AOS PADRINHOS: Ser padrinho e madrinha de casamento é um ato social, mas, para os Sagrados orixás, sua função é a de atuarem como luzes na vida de seus afilhados, para que, no caso de desavenças, eles possam chamá-los para conversar e se orientar. Vocês deverão tra­balhar as dificuldades do casal, com har­monia, com a razão e não com a emoti­vi­da­de, para não desenvolver rupturas e car­mas. Quem está na dificul­dade não consegue tomar decisões acertadas; aí é importante a ação dos pa­drinhos. Ser padrinho e madri­nha é ter ascendência sobre os afilhados, para chamá-los à atenção quando necessá­rio. Nesse caso, poderão ser utilizadas as velas, deixando-as acesas um pouco, para equilíbrio, para que voltem a se ver como hoje, como par, casal que se ama. Apagar as velas em seguida.
O(a) sacerdote(sacerdotisa) une as mãos dos noivos, coloca a sua mão direita sobre as deles, reza e diz ao casal — A você (nome do noivo) e a você (nome da noiva), que hoje estão aqui para dar esse passo importante, peço a bênção dessa união a nosso Pai Oxalá. Em nome de Deus Pai, Todo-Poderoso e dos Sagrados orixás, pelo poder a mim conferido pelos orixás eu per­gunto: “Estão conscientes da responsabi­lidade que estão assumindo?”
O(a) dirigente pega e abençoa as alian­ças, que antes foram colocadas na água, na pemba e no crisântemo. Eleva as alianças, para que recebam as bênçãos, a imantação divina, enquanto os noivos permanecem ajoelhados.
“Nosso Deus, nosso Pai, Divino Criador, Sagrados orixás, peço-Vos que derramem Vossas bênçãos sobre estes símbolos de união, para que quando forem usados, os noivos sempre se lembrem do compromisso assumido diante de Vós.  A Curimba canta pontos de união. Exemplo:
Pai Olorum, abençoe esta união } bis
Estão aqui em Vossa casa }
Pra pedir Vossa bênção. } bis)
“Peço ao Divino Olorum, a nosso Pai Oxa­lá, aos demais orixás e protetores que abençoem esta união sagrada, derramando suas luzes sobre vossas coroas. Peço-lhes que esta união ocorra também em espírito, pa­ra que, unidos diante de Deus, usufruam dos benefícios do sagrado matrimônio, para fortalecimento do vosso espírito e do elo que neste momento está se estabelecendo entre ambos. Pede aos noivos que se levan­tem e pergunta:
para a noiva: (nome da noiva) é de livre e espontânea vontade que você recebe (nome do noivo) como seu esposo?
para o noivo: (nome do noivo) é de livre e espontânea vontade que você recebe (nome da noiva) como sua esposa?
Após o sim, “então, que seja anotado no Livro das Uniões e que, agora, vocês tro­quem as alianças, que representarão essa união perante a sociedade. Que abençoados sejam vocês em sua união, para vivenciarem o Amor, que já foi vivenciado em outros pla­nos, e aqui repitam a alegria da vida. O(a) dirigente assina o livro e diz:
“Agora estão unidos perante Pai Olo­rum e perante os Sagrados orixás. Que De­us os abençoe! E porque diante de Deus e da Umbanda estão unidos como marido e mulher, finalizamos esta cerimônia, pedindo que assinem nosso livro. “Podem se beijar!”
A Curimba poderá cantar hinos e pontos de alegria (8.3 — 2.4).
O sacerdote ou sacerdotiza entrega as velas aos noivos, orientando-os para que elas sejam preservadas sempre em pé. Parabeniza-os. Noivos, padrinhos e teste­mu­nhas assinam o livro.  Saída dos noivos, com canto da Curimba, para recebimento dos cumprimentos. Encerrar o trabalho.

Texto extraído do livro “Manual Doutrinário, Ritualístico e Comportamental Umbandista - Coordenação de Lurdes de Campos Vieira / Supervisão de Rubens Saraceni - Editora Madras.

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